domingo, 15 de maio de 2011

DIÁRIO DE UM DONO DE CASA




Porque se queixarão as mulheres das lides domésticas se basta um pouco de organização?!


Segunda-feira - Sozinho em casa. A minha mulher foi passar a semana fora. Ora aí está uma excelente mudança. Vamos passar uma semana inesquecível, o cão e eu.
Delineei um programa e organizei o meu horário. Sei exactamente a que horas me levantar, quanto tempo demoro na casa de banho e a preparar o pequeno-almoço.
Acrescentei o número de horas de que preciso para lavar a louça, fazer limpezas, passear o cão, ir às compras e cozinhar. Fiquei agradavelmente surpreendido com o muito tempo livre que ainda terei. Não percebo porque é que as mulheres se queixam da lide da casa se tudo isso exige tão pouco tempo. O segredo está numa boa organização.
O cão e eu comemos um bife cada um ao jantar. Vesti-me a rigor, acendi uma vela e pus rosas numa jarra para criar uma atmosfera aprazível. O cão comeu pâté de foie gras como entrada, repetiu a dose como prato principal, com uma requintada guarnição de legumes, e biscoitos à sobremesa. Eu bebi vinho e fumei um charuto. Há muito que não me sentia tão bem.

Terça-feira - Tenho que dar uma olhada ao meu horário. Uns pequenos acertos.
Expliquei ao cão que não se pode ter festa todos os dias e que, por isso, não pode estar à espera de entradas e três tigelas de comida, que, é claro, tenho de lavar.
Ao pequeno-almoço, verifiquei que o sumo de laranja natural tem um inconveniente. É preciso lavar sempre o espremedor. Alteração possível: fazer sumo para dois dias. Assim, só tenho metade do trabalho.
Descoberta: posso aquecer as salsichas dentro da sopa. Menos uma panela para lavar.
É claro que não pretendo aspirar todos os dias, como a minha mulher queria. De dois em dois dias é mais que suficiente. O segredo está em andar de chinelos e limpar as patas do cão. Quanto ao resto, sinto-me optimamente.

Quarta-feira - Tenho a impressão de que afinal a lida doméstica leva mais tempo do que pensava. Preciso de repensar a minha estratégia.
Primeiro passo: comprei um saco de comida rápida. Não tenho de perder tempo com cozinhados. É um disparate perder mais tempo a preparar a comida que a comê-la.
A cama é outro problema. Primeiro é preciso sair de dentro do edredon, a seguir arejá-lo e por fim fazer a cama. Que complicação! Acho que não vale a pena fazê-la todos os dias, sobretudo porque nessa mesma noite voltarei a deitar-me. Parece-me uma tarefa inútil.
Deixei de fazer refeições complicadas para o cão. Comprei algumas de lata. Ele fez má cara, mas não teve outro remédio senão comê-las. Se tenho de arranjar-me com refeições pré-cozinhadas, ele não é mais do que eu.

Quinta-feira - Acabou-se o sumo de laranja! Como é que um fruto aparentemente tão inocente causa tamanha confusão? É inacreditável! Vou passar a comprar sumo engarrafado pronto a beber.
Descoberta: consegui sair da cama quase sem a desfazer. Basta-me depois alisar ligeiramente a roupa. Claro que é preciso uma certa prática, e não me posso mexer muito durante o sono. Doem-me um bocado as costas, mas nada que um bom duche quente não possa resolver.
Deixei de fazer a barba todos os dias. É uma perda de tempo. Assim, também ganho uns minutos preciosos que a minha mulher, como não tem de fazer a barba, nunca perde.
Descoberta: não vale a pena usar um prato lavado de cada vez que como. Lavar a louça tantas vezes começa a dar-me cabo dos nervos. O cão também pode comer só numa tigela. Afinal de contas, é um animal.
Nota: cheguei à conclusão de que basta aspirar, no máximo, uma vez por semana.
Salsichas ao almoço e ao jantar.

Sexta-feira - Adeus sumos de fruta! As laranjas são muito pesadas.
Descobri o seguinte: as salsichas sabem bem de manhã. Ao almoço, nem por isso. Ao jantar, nem vê-las! Salsichas mais de dois dias seguidos enjoam.
O cão, esse, está a comida seca. Afinal de contas tem os mesmos nutrientes e não suja a tigela. Descobri que posso comer a sopa directamente da panela. Sabe ao mesmo. Nem tigela nem concha. Assim já não me sinto tanto como uma máquina de lavar louça.
Já não lavo o chão da cozinha. Irritava-me tanto como fazer a cama.
Nota: acabaram-se as latas. O abre-latas fica todo pegajoso!

Sábado - Que ideia é esta de me despir à noite se tenho de voltar a vestir-me de manhã? Aproveito mas é o tempo para ficar mais um bocadinho na cama. E também não preciso da colcha, por isso a cama está sempre feita.
O cão encheu tudo de migalhas. Pu-lo na rua de castigo. Não sou criado dele! Que estranho!! De repente, dei-me conta de que é o que a minha mulher me diz às vezes...
Hoje é dia de fazer a barba, mas não me apetece nada. Tenho os nervos em franja.
Ao pequeno-almoço, só coisas que não preciso de desembrulhar, abrir, cortar, polvilhar, cozinhar nem misturar. Tudo coisas que me incomodam.
Plano: comer directamente do saco em cima do fogão. Nem pratos, nem talheres, nem toalha, nem nenhum disparate desses.
Tenho as gengivas um bocado inflamadas. Deve ser da falta de fruta, que é muito pesada para carregar. Se calhar, estou com um princípio de escorbuto.
A minha mulher telefonou à tarde a saber se tinha lavado as janelas e posto a roupa a lavar. Desatei a rir, meio histérico. Disse-lhe que não tinha tempo para essas coisas.
Há um problema com a banheira. Está entupida com esparguete. Também não estou para me chatear. Não me incomoda muito, porque deixei de tomar duche.
Nota: o cão e eu comemos juntos directamente do frigorífico. Tem é de ser depressa. Não convém deixar a porta aberta muito tempo.

Domingo - O cão e eu estamos sentados na cama a ver televisão. Vemos pessoas a comer todo o tipo de iguarias. Salivamos os dois. Ambos estamos fracos e rabugentos.
Esta manhã comi da tigela do cão. Nenhum de nós gostou.
Precisava de me lavar, barbear, pentear, fazer comida para o cão, levá-lo a passear, lavar a louça, limpar a casa, ir às compras e uma série de outras coisas, mas não arranjo forças. Sinto que estou a perder o equilíbrio e que a vista me está a faltar.
O cão deixou de abanar a cauda.

Num último reflexo de sobrevivência, arrastámo-nos até um restaurante. Durante uma hora, comemos toda a espécie de pratos óptimos.
Em seguida, fomos para um hotel. O quarto é limpo, arrumado e confortável. Descobri a solução ideal para o governo da casa. Não sei se a minha mulher já se terá lembrado disto!

Ivan Kraus in Selecções do Reader's Digest - Setembro de 1998



"Não sou criado dele! Que estranho!! De repente, dei-me conta de que é o que a minha mulher me diz às vezes..."

"Que estranho!!" Não é Esposas?... E porquê?...


(comentário de Edite Esteves)

domingo, 1 de maio de 2011

MÃE,
MULHER QUE NÃO TEM IGUAL


Mãe!
Branca, negra, amarela ou pele-vermelha;
Rica ou pobre, fidalga ou plebeia,
É para ti este poema, esta centelha
De Amor filial, que o teu amor premeia!

              Se és senhora ou escrava, rainha ou camponesa;
              Se em salões habitas cercada de ouro e prata,
              Ou em tugúrio humilde escondes a pobreza,
              O sofrimento e a dor que te mata;

Se em cátedra te sentas, mostrando o teu saber;
Se o mundo inteiro, atento, escuta o teu falar,
Ou se nem teu pobre nome sabes escrever
E do teu saber nada tens para ofertar;

              Se em berço dourado o teu filho embalas,
              Ou se em farrapos o seu corpo encobres;
              Se o mostras ao mundo, vestido de galas,
              Ou o sustentas com o pão dos pobres;

Se em abastança vives e em nada te agastas;
Se é calmo e feliz todo o teu viver,
Ou se pelas ruas tua miséria arrastas
E em cruenta luta vais desfalecar;

              Se, plena de orgulho, o teu filho ostentas;
              Se no teu lar vais vê-lo crescer,
              Ou se escorraçada quase não aguentas
              A vergonha e o abandono em que vais viver;

Se de todos tens o carinho e o amor,
Tudo o que desejas p'ra ao teu filho dar,
Ou, se em vez de tudo, só te resta a dor
De abandonada e só, haveres de lutar,

MÃE!
              És sempre a MULHER que não tem igual,
              vivas num palácio ou numa cabana!
              Que amor é o teu, que não tem rival!
              Que nobreza a tua, que outra não irmana!

Amor sublime, de renúncia feito!
Grandioso, imenso, abnegado amor!
Que coração o teu! Dentro do teu peito
Se alberga, silente, muita vez, a dor!

MÃE!
              Eu te quero muito, seja como for
              O teu viver, e o meu viver, também!
              Quero dar-te amor em troca desse amor
              Que sempre tu me dás, ó minha MÃE!


                                                        Maria Augusta Pires,
                                                        uma GRANDE Mulher!



       (clique na imagem para ler)