quinta-feira, 7 de abril de 2016



Bons Velhos Tempos?
        Será que os "bons velhos tempos" eram realmente bons? Geralmente, pensamos que o período entre a segunda metade do século XIX e o começo do século XX, na América, era de tranquilidade, charme, encanto e passeios despreocupados de charrete pelos campos verdejantes. Entretanto, tente comprar manteiga ou "margarina" no armazém da cidade. O historiador Otto Bettmann descreve assim: "Os produtos de laticínio eram para os produtores do período vitoriano, uma ótima oportunidade de improvisar; era necessária muita imaginação, não escrúpulos ... Nos anos 1800, esses produtos eram vendidos pela respeitável quantia de 30 centavos o quilo, mas geralmente estava rançoso, e era uma mistura de caseína com água, ou de cálcio, gesso, gordura de gelatina e puré de batatas ...
        "As alternativas eram manteiga 'adulterada' ... banha de porco junto com todas as partes concebíveis dos animais que o matadouro não conseguisse transformar em dinheiro, processadas pelos fabricantes de óleo, em galpões imundos. Adicionavam alvejantes à mistura para dar ao produto a aparência de manteiga de verdade. Um empregado da fábrica de margarina em 1889 ... (ficou) 'com as mãos tão machucadas ... que suas unhas e cabelos caíram e ele teve que ser confinado ao Bellevue Hospital por debilidade geral'."
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        As antigas casas das fazendas eram rodeadas por jardins de rosas, circundados de sujeira e adubo mal cheiroso que atraíam centenas de carrapatos, portadores de doenças, mosquitos e moscas. Os poços de água potável eram, quase sempre, próximos dos celeiros, currais, chiqueiros ou galinheiros, sem nenhuma drenagem. "A gordura da cozinha, dejetos das latrinas e o líquido infiltrado dos animais" contaminavam a água, deixando o ar extremamente malcheiroso.2
        Se você contraísse uma doença pelo ambiente sórdido, os médicos do meio do século XIX poderiam dizer que a causa da doença fora "muita vitalidade" e fariam uma sangria com sanguessugas.3 Numa nota no diário de Angeline Adrews, lemos: "Carlos Beeman morreu esta manhã ... Havia alguns dias, ele estava com a garganta inflamada. Ontem, a garganta foi lancetada e ele pensou que teria uma boa noite de sono. Jantou substanciosamente. Por volta das onze horas, sua esposa lhe deu uma dose de morfina, prescrita pelo médico. Imediatamente ele dormiu e nunca mais acordou."4
        Os bons velhos tempos eram, na realidade, terríveis!

Ellen White e a Mensagem de Saúde
        No dia 5 de junho de 1863, Ellen White participava de um culto, com um pequeno grupo em Otsego, Michigan, quando recebeu uma visão sobre saúde, durante 45 minutos. Quando lhe pediram que a explicasse, ela apenas disse que não entenderiam tudo de uma vez. Essa visão veio num tempo em que o fumo era usado como tratamento de infecção do pulmão; mercúrio e arsénico eram considerados tónicos de limpeza, e a luz do sol, durante o dia, e o ar fresco da noite, causadores de doenças.
        O historiador adventista Mervyn Maxwell faz essa descrição no seu livro Tell It to the World (Conte ao Mundo): "A visão falava contra o uso da bebida alcoólica, temperos fortes e sobremesas gordurosas. O tabaco foi denunciado como um 'veneno do tipo mais enganoso e maligno', e o chá e o café, como tendo efeitos 'similares aos do tabaco', mas em menor escala.
        "Foi mostrado que é muito prejudicial comer muito, mesmo bons alimentos, comer entre as refeições ou pouco antes de ir para a cama ... A visão indicou solenemente o 'alimento animal' (carne) como a principal causa do declínio da raça humana. A carne suína, em particular, foi condenada ...
        "Trabalhar demais foi apresentado como um grande mal ... Ellen White foi instruída a tocar o alarme contra o uso de 'drogas' - arsénico, estricnina, subcloreto de mercúrio, etc."
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        Entre os conselhos positivos, estava: manter a residência limpa por dentro e por fora; iluminada pelos raios de sol e inundada por ar puro; alimentar-se com abundância de frutas frescas, vegetais, grãos e castanhas. Fazer exercícios, especialmente ao ar livre; cultivar uma atitude mental de gratidão, confiança em Deus e otimismo, segundo ela, são as maiores salvaguardas da saúde."6 Nutrir hábitos regulares, bons hábitos em relação ao sono e domínio próprio para a saúde, tanto física quanto mental, porque "alimentar-se e dormir em horários irregulares suga as forças do cérebro".7

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        A ciência mostra que tais conselhos, baseados na Bíblia e escritos há tantos anos, são igualmente relevantes hoje. Recentemente, o estilo de vida adventista foi notícia numa edição especial da National Geographic, destacando "Os Segredos da Longevidade": "A Igreja Adventista, nascida durante o período de reformas de saúde do século XIX, que popularizou o vegetarianismo organizado, os biscoitos integrais e cereais para o desjejum (John Harvey Kellogg era adventista quando começou a fabricar flocos de trigo) - sempre pregou e praticou a mensagem de saúde."
        "Ela proíbe, expressamente, o cigarro, consumo de álcool e o consumo de alimentos biblicamente imundos, como o porco
(já tem o nome, não é?... EE). Também desencoraja o consumo de outras carnes, alimentos gordurosos, bebidas cafeinadas e condimentos 'estimulantes'. 'A dieta escolhida por nosso Criador foi: grãos, frutas, castanhas e vegetais', escreveu Ellen White ... Os adventistas também guardam o sábado, desfrutando de um tempo sagrado que ajuda a aliviar o stresse. Hoje, a maioria dos adventistas segue o estilo de vida prescrito - um testemunho, talvez, do poder da união da saúde com a religião."8

Estrelas Contam a História
        O Estudo Adventista sobre saúde é um estudo sobre os adventistas, iniciado em 1958 e que, até hoje, está em andamento. Das populações estudadas, os adventistas são os que mais vivem na Terra. Cinco comportamentos simples, promovidos pela igreja ao longo de 100 anos, aumentam a expectativa de vida em mais de dez anos: não fumar, dieta baseada em plantas, consumir castanhas várias vezes por semana, exercícios regulares e manter um peso corporal saudável.9
        Outros importantes hábitos de saúde, como descanso adequado, guardar o sábado, praticar a gratidão e controlar o stresse, também são proteções benéficas. Pesquisas revelam que o estilo de vida adventista reduz, significativamente, o risco de muitas doenças crónicas, promove a saúde mental e espiritual, aumenta a qualidade de vida e a longevidade.

Livros Para Crescimento
        O livro A Ciência do Bom Viver, de Ellen White, é um dos guias mais úteis para levar, às pessoas que sofrem, a mensagem de Cristo para a cura. Muitos de seus outros escritos estão repletos de conselhos sábios, práticos e inspirados sobre vida saudável: Temperança, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, Conselhos sobre Saúde e Mente, Caráter e Personalidade. Esses livros destacam a visão de Deus para um viver saudável unida à pregação das doutrinas bíblicas, a conexão mente/corpo, orientações sobre dieta e estilo de vida, princípios gerais sobre saúde mental e física, e guia espiritual para aqueles que lutam contra problemas específicos.

Vida Mais Abundante
        Jesus foi enviado para um ministério de cura: "Enviou-Me a curar os quebrantados do coração. A pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos."10 Deus, porém, promove mais do que a remoção do quebrantamento e maus hábitos; Ele quer que desfrutemos um estilo de vida saudável que nos prepare para o Céu. Encontramos na Santa Bíblia e nos escritos inspirados de Ellen White, o manual básico, as promessas e a força para praticarmos tal estilo de vida.

Referências:
1- O. Bettman, The Good Old Days-They Were Terrible (New York: Random House, 1974), p. 116.
2- lbid.,p.51.
3- C. Mervyn Maxwell, Tell It to the World: The Story of Seventh-day Adventists (Mountain View, Cal.: Pacific Press, 1977), p. 206.
4- Ibid.
5- Ibid., p. 207.
6- Veja A Ciência do Bom Viver, p. 281.
7- The Youth's Instructor, 31 de maio, 1894, p. 198.
8- "The Secrets of Long Life", D. Buettner, National Geographic Magazine, novembro de 2005, p. 22, 25.
9- Adventist Health Study Report 2008, vol. 5, p. 5.
10- Lucas 4:18,19.

Vicki Griffin, MPA, MACN, é diretora do Departamento de Saúde da Associação dos Adventistas do Sétimo Dia de Michigan, em Lansing, Michigan, EUA.
Revista Adventist World, maio 2009. Pode ver mais sobre a autora em: http://www.nadhealthsummit.com/article/156/seminars/living-free-building-a-better-brain-body-and-habits-for-good/vickie-griffin-ms-hum-nutr-mpa-macn e nos Links 4LS - NAD Health Ministries.


"A Educação de Daniel, e Outros Jovens Hebreus, na Corte de Nabucodonosor"
"No ano terceiro do reinado de Joaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei de Babilónia, a Jerusalém, e a sitiou. E o Senhor entregou nas suas mãos a Joaquim, rei de Judá, e uma parte dos vasos da casa de Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os vasos na casa do tesouro do seu deus.
E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos nobres, mancebos em quem não houvesse defeito algum, formosos de parecer, e instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viverem no palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras e na língua dos caldeus.
E o rei lhes determinou a ração de cada dia, da porção do manjar do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem criados por três anos, para que, no fim deles, pudessem estar diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias. E o chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel pôs o de Belteshazar, e a Hananias o de Sadrach, e a Misael o de Mesach, e a Azarias, o de Abed-nego.
E Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto, pediu ao chefe dos eunucos que lhe concedesse não se contaminar.
Ora deu Deus a Daniel graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos. E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que os dos mancebos que são vossos iguais? Assim arriscareis a minha cabeça para com o rei.
Então disse Daniel ao despenseiro, a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus servos, dez dias, fazendo que se nos deem legumes a comer, e água a beber. Então se veja diante de ti o nosso parecer e o parecer dos mancebos que comem a porção do manjar do rei, e, conforme vires, te hajas com os teus servos. E ele conveio nisto, e os experimentou dez dias.
E, ao fim dos dez dias, apareceram os seus semblantes melhores; eles estavam mais gordos do que todos os mancebos que comiam porção do manjar do rei. Desta sorte, o despenseiro tirou a porção do manjar deles, e o vinho que deviam beber, e lhes dava legumes.
Ora, a estes quatro mancebos Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos. E, ao fim dos dias, em que o rei tinha dito que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante de Nabucodonosor.
E o rei falou com eles; e entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel, Hananias, Misael, e Azarias; por isso, permaneceram diante do rei. E em toda a matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou 10 vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o reino. E Daniel esteve até ao primeiro ano do rei Ciro."
Bíblia Sagrada, Daniel 1:1-21.


Pergunta: Daniel Era Vegetariano?

Permita-me considerar o contexto do assunto citado em Daniel 1:3-21 e, no processo, responderei à pergunta especificamente.

A queda do reino de Judá e a expatriação de muitos israelitas para Babilónia expuseram-lhes a fé a novos desafios. Eles estavam numa terra de cultura distinta e de convicções religiosas radicalmente diferentes, dificultando assim a prática da sua fé religiosa.

1. Assimilação Cultural: O propósito dos reis babilónios era transferir lentamente a fidelidade que os jovens hebreus tinham para com Deus, para os deuses deles; de Jerusalém para Babilónia. Esse era o objetivo dos profissionais e psicólogos do seu programa educacional.
Primeiro, elevavam sua auto estima ao levá-los para o palácio real, onde passavam a fazer parte da elite intelectual, o que facilmente criava neles a predisposição para aceitar o país estrangeiro e ter gratidão ao rei por aceitá-los.
Segundo, deveriam ser instruídos nos idiomas e literatura de Babilónia. Provavelmente Daniel já falava várias línguas, porém teria que aprender pelo menos o aramaico e o caldeu acadiano para se comunicar com os outros e para ler a literatura sobre ciência (como matemática, astronomia); música e religião (incluindo mitologia, divindades, astrologia) e serem doutrinados na visão mundial de Babilónia.
Terceiro, a assimilação cultural foi iniciada com a troca da sua identidade, dando-lhes nomes de divindades babilónicas (Daniel 1:7). Seu comprometimento com o Senhor foi ameaçado. O interessante é que a escrita dos nomes babilónicos parecia corromper, intencionalmente, os nomes originais, evidenciando sua resistência à assimilação cultural e religiosa.

2. Provisão Alimentar: O rei determinou qual seria a dieta de Daniel e de seus amigos, o que deveria ser considerado um privilégio e parte dos benefícios de estudar na Universidade de Babilónia. As refeições eram fornecidas pelo rei. É sabido que os reis de Babilónia não apenas supriam seus oficiais com alimentação diária, mas também com acomodação. O contexto bíblico sugere que o alimento oferecido a Daniel e seus amigos era o alimento preparado para o próprio rei, o melhor que Babilónia tinha para oferecer. O principal interesse do rei era estar seguro de que eles estariam em excelentes condições físicas para obter o melhor aprendizado.
Se, porém, considerarmos essa decisão do ponto de vista cultural, concluímos que o rei tinha intenções mais profundas: o alimento determina a identidade; aquilo que comemos determina nossa cultura, inclusive nossas convicções religiosas. A ênfase na alimentação era parte da tentativa cultural e religiosa de assimilar os hebreus na religião e na cultura de Babilónia.

3. Rejeição da Mudança Cultural: Daniel resolveu não se contaminar com os manjares do rei nem com o vinho que ele bebia. "Decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do rei" (verso 8, NVI). "Decidiu" foi a tradução para "colocou em seu coração", em hebraico. Daniel colocou sua vontade e razão no que havia decidido, provavelmente baseado no facto de que os alimentos do rei eram oferecidos aos seus deuses antes de ser servidos à mesa de Daniel. Provavelmente, a maior parte deles não era preparada de acordo com as ordens bíblicas (Levítico 17:10) e incluía alimentos imundos. Essas razões em si já eram motivo para rejeitar a comida do rei.
Mas o facto de, nessa ocasião, Daniel ter escolhido uma dieta vegetariana sugere algo mais profundo. O rei resolveu que ele mesmo "escolheria" (yeman) a dieta deles. A forma verbal usada no Antigo Testamento é empregada especificamente para atividades de Deus (Salmo 16:5; 61:8; Jonas 2:1), sugerindo que o rei estava assumindo uma prerrogativa divina. Para Daniel, somente Deus poderia determinar o que ele deveria comer. E, naquela situação, ele voltou à dieta original que excluía a carne (Génesis 1:29; 3:18) e o ajudava a obedecer ao Senhor. Assim, o Senhor abençoou seu esforço de servi-Lo. Enquanto ficou responsável por sua própria dieta, ele seguiu a ordem levítica (Daniel 10:3).

A escolha de assimilar os perigos de uma cultura ainda é nossa. À semelhança de Daniel, devemos resistir a ela e permanecer firmes aos nossos valores, princípios e ensinos da Palavra de Deus.

Angel Manuel Rodríguez é diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral.
Adventist World, Dezembro 2009